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O poder das histórias

Perigo! Um gavião se aproxima e o sentinela dá o alarme com gritos estridentes! A comida fica onde está, a brincadeira termina e o cochilo é interrompido sem reclamação. Não importa o que seja, todos os suricatos do bando abandonam o que estão fazendo e correm para suas tocas. Em segundos, a única coisa que sobra é a poeira no ar e um predador faminto. Esse é apenas um dos muitos exemplos interessantes de comunicação entre os animais que você já deve ter visto por aí na TV ou em algum vídeo da internet.

Você já ouviu a frase: “os humanos são os únicos seres vivos capazes de contar histórias”? Ouvindo isso, refleti sobre esse caso dos suricatos, depois estendi o assunto para os outros animais e cheguei à conclusão, óbvia, para falar a verdade, de que esses sistemas de comunicação no reino animal servem mais a um instinto de autopreservação que à contação de uma história.


Sim, é possível verificar vestígios da história nos anéis que algumas árvores criam em seus caules, mas isso nada mais é do que um registro físico de sua própria existência e experiências biológicas a longo do tempo. É uma representação física e biológica chamada dendrocronologia, não uma narrativa conscientemente construída.


Nenhuma mãe suricata fala para seu filhote que viu o suricato Fulaninho ser levado por um gavião, o filhote aprende a moral da história direto, não precisa ser convencido. Nós, seres humanos, é que temos um sistema mais complexo de raciocínio.


Deus nos deu o arbítrio, ou seja, temos a capacidade de fazer escolhas e as histórias cumprem um papel importante de nos ensinar a fazer escolhas melhores, nos ensinando através da vivência, da razão. Somos convencidos pelas histórias, aprendemos com elas. Ao entender que, por não ter obedecido a Deus, Jonas foi engolido pelo grande peixe, a criança aprende uma grande lição de obediência, e essa é só uma das muitas histórias contadas na Bíblia.


É através da história de muitas pessoas reais, que tiveram os seus acertos, e os seus erros também, que aprendemos tanto. A Bíblia nos traz algumas das mais trágicas histórias que nos mostram o quanto decisões erradas podem levar a terríveis consequências. É claro que você se lembra das grandes histórias da queda de Adão e Eva, daqueles mortos no dilúvio, da resistência de faraó que o fez perder muitos de seu povo e até o próprio filho, mas talvez não lembre do sacrifício de Jefté, quando um homem imprudentemente fez um voto a Deus (que não tinha pedido por isso) prometendo que, se o Senhor o ajudasse numa batalha, a primeira coisa que ele visse saindo da tenda ao retornar da peleja seria sacrificada, daí, quando ele retorna vitorioso, a primeira pessoa que sai era sua própria filha, alegre com a vitória do pai. Isso está lá em Juízes 11:29-40.


Talvez não lembre que em Gibeá um integrante da tribo de Levi com sua concubina foram atacados. A mulher foi brutalmente estuprada e morta e isso desencadeou uma trágica série de eventos que culminaram com um conflito sangrento entre as tribos de Israel, o que está relatado entre os capítulos 19 e 21 também do livro de Juízes.


Talvez não lembre também de Amnon, o filho do rei Davi, que se apaixonou por Tamar, sua meia-irmã. Ele a estuprou e isso ocasionou a vingança de Absalão, quando este cometeu fratricídio contra Amnon. O relato está em 2 Samuel no capítulo 13.


Mas também temos lindas narrativas reais, como a da criação, a do resgate do bebê Moisés das águas do Nilo, a anunciação a Maria, e até a narrativa do Sermão da Montanha. Na verdade, a maior parte do Antigo Testamento e grande parte do Novo nos contam histórias, é a partir delas que a Bíblia nos mostra a identidade religiosa e étnica do povo judeu, transmite ensinamentos morais e éticos e nos proporciona inspiração espiritual e emocional.


É através da demonstração de fé de Abraão que aprendemos que Deus é o nosso Jeová Jiré, aquele que provê o nosso sustento mesmo quando não sabemos o que fazer, é através da coragem de Gideão que aprendemos que Deus não nos abandona e nos provê a paz que precisamos, é através das narrativas bíblicas que vemos como grandes homens de Deus se relacionaram com o Senhor e assim entendemos como fazer o mesmo.


E foi, principalmente, através de uma narrativa que Deus nos fez entender o quanto nós, enquanto pecadores, estamos longe da presença dDele, e, principalmente, como nós podemos ter a redenção dos nossos pecados. Foi através da história de Jesus que o Senhor nos ensinou tudo isso.


E, falando nele, até o próprio Jesus sabia da importância das narrativas. Foi por meio delas que ele transmitiu ensinamentos profundos e, eu creio, que foi por meio delas que ele cumpriu o cântico que sua própria mãe dedicou ao Senhor no momento em que o menino foi gerado em seu ventre: “Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos.” Foi através das parábolas que Jesus ensinou aos humildes e confundiu os soberbos, depondo dos tronos os poderosos e elevando os humildes. Veja o Magnificat em Lucas 1:46-55.


Esse é o poder das narrativas e é desse poder que o inimigo tanto tem se utilizado em nossos dias, com as narrativas mais sujas e tendenciosas que os canais de televisão e os serviços de streaming podem conceber, mas isso é assunto para um próximo post.


Até lá!

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